É
lastimável ver famílias endividadas, como a que se desfez da casa por R$ 100 mil
para morar de aluguel, se aventurando numa pequena fortuna nos 12 meses
seguintes. Dá dó ouvir relatos de pessoas que contraíram empréstimos, que
arranjaram dinheiro com o vizinho, tiraram grana dos cofres da irmã ou
arrebataram alguma economia da poupança, a minguada poupança de magros juros, só
pra entrar no negócio. Lamentável! Mas é obrigação do Ministério Público
investigar e coibir práticas ilícitas, que talvez sim ou talvez não, seja o caso
da Telexfree. Deixando de fora as razões e as contrarrazões disso tudo, chego a
conclusão de que é realmente muito estranha a forma avassaladora de ganhos com a
postagem de anúncios que pouco sabemos como funcionam. Numa das primeiras
abordagens que fiz sobre o assunto, perguntei a um dos divulgadores mais bem
sucedidos da Telexfree em Itabuna, o fato de pouco se divulgar o sistema de
telefonia em si. Ele me respondeu: “Ele existe” e fez funcionar comprovando o
que me dizia. Mas a grande verdade é que esse não parece ser o objeto principal
da empresa. Há inúmeros fatores que caracterizam uma empresa de marketing
multinível e alguns deles é o foco no produto em si, muito mais do que na forma
de compartilhamento de lucros entre pessoas. Empresas assim costumam ter um
consumo muito alto de seus produtos fora da rede. Significa que existem mais
pessoas fora dela cadastrada, e utilizando seus produtos, que dentro. Este não
parece ser o caso da Telexfree, já que a telefonia, pelo menos em Itabuna, era
relegada a segundo plano. Quer outro exemplo? A empresa de rastreadores de
veículos, cujos artefatos são igual “orelha de freira”: ninguém os vê. Também
foi barrada pela Justiça. Mas disso tudo, uma coisa é certa: o bloqueio das
contas e os inúmeros boatos a toda a hora na internet só serviram para alimentar
ainda mais a frustração de muitos, alguns até desempregados que viam neste
sistema a forma ideal de obter um pouco mais de conforto financeiro. Para
muitos, ainda é incompreensível que as investigações do MPE - e agora do
Ministério da Justiça, com indícios de lavagem de dinheiro - possam ter um
desfecho negativo. Como dizia um dos já desesperançosos: “Sabia que era só um
sonho, mas não quis acordar”. Resta-nos esperar o desfecho dos próximos dias. E
dias após dias sempre existirão!
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