por Júlia Vigné
Foto: Reprodução / Jornalismo B
A lista de Janot, como ficou conhecida a lista de pedidos de autorização para investigação remetida pelo procurador-geral da República contra deputados, senadores e ministros acusados de receber propina da Odebrecht, contém a citação de políticos baianos que podem concorrer nas eleições de 2018. E a eventual influência da Operação Lava Jato nos votos da população nas eleições de 2018 é ponto de divergência entre cientistas políticos. Para o professor da matéria na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Maurício Ferreira da Silva, pode haver uma “naturalização” da Lava Jato. “Quando você tem um tipo de denúncia ou movimento que junta todos os partidos, dos mais diversos campos, e com muitos políticos, pode acontecer de todo mundo entrar em um mesmo limbo e a população não conseguir diferenciar mais. A população deve buscar outros instrumentos, outros argumentos para a votação”, afirmou. De acordo com ele, a naturalização pode ocorrer por conta da proporção da Lava Jato. “Conforme ela se prolonga por muito tempo, acaba tomando naturalidade, entrando no jogo do dia a dia”, disse. De acordo com ele, as pessoas podem sequer ser afetadas, ao ponto de pensarem que a Lava Jato faz parte do jogo da política. “Pode até acontecer que em junho do ano que vem, quando as convenções partidárias se identifiquem, ninguém [que tenha sido citado] tenha sido julgado”, afirmou, destacando que as pessoas podem colocar todos os políticos “em um mesmo lado”. “Como você tem que escolher entre todos que em tese estão de um lado só, não dá para separar o trigo do joio, há esse risco de uma naturalização”, afirmou. Já para o cientista político e pesquisador de ciências políticas da Universidade Federal da (Ufba), Paulo Fábio Dantas, não há como prever o que irá acontecer. “Está longe de estar claro a que nível cada um dos citados está interligado. Independente desse nível, a Lava Jato não é o único fator que pode influenciar o voto dos eleitores”, afirmou. Para ele, não haverá uma naturalização da Lava Jato. “Os eleitores ainda vão nas eleições de 2018, 2020 e até nas próximas para as urnas sem muitas certezas e levando a Lava Jato em consideração. Claro que a Lava Jato vai influenciar nas eleições, eu só não posso dizer em que direção vai influenciar ou que será a única coisa determinante na hora de escolher o seu voto”, afirmou destacando que tanto a naturalização é ruim, como a fixação do voto em apenas esse quesito. O cientista político citou Miriam Leitão, jornalista, ao afirmar que o campo da justiça não tem o mesmo tempo que o da política. “Vão se passar muitos anos até que todos os processos da Lava Jato seja processada e possa se discernir os vários graus de responsabilidade dos políticos brasileiros”, afirmou. De acordo com ele, não é bom apressar os processos da Justiça para permitir que os eleitores tenham certeza do que ocorreu e nem suspender as eleições para que a Justiça se resolva. “Isso seria desrespeitar a democracia. Nós só estamos tendo a possibilidade de desvendar esse esquema por conta da democracia. Temos que respeitar o tempo que cada coisa tem”, afirmou afirmando que, atualmente, há uma mudança no país no sentido oposto à naturalização. “Eu acho que os eleitores vão incluir a Lava Jato entre os critérios, embora não possa afirmar que a Operação será classificada como único ou principal critério”, afirmou.
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