Prefeitas Maria Quitéria e Sandra Cardoso | Fotos: Américo Barros / UPB
Em um total de 417 municípios, cerca de 60 deles têm uma mulher
na chefia da gestão. O número ainda é inexpressivo, mas é consenso
entre as prefeitas ouvidas pelo Bahia Notícias que a realidade está
sendo modificada. Nesse processo de transição, não é surpresa se deparar
com manifestação de preconceitos. “Senti muito isso na minha eleição de
prefeita, fui muito perseguida, tentaram me coibir, que eu não me
candidatasse, por ter juventude, por ser mulher, que eu era sexo
frágil”, afirmou Maria Quitéria (PSB), prefeita de Cardeal da Silva e
presidente da União dos Municípios da Bahia. Quitéria percebe que nesse
segundo mandato como prefeita algumas coisas mudaram, inclusive, o
número de mulheres no topo do executivo municipal ainda jovens aumentou.
“Eu tenho algumas surpresas na gestão pública com as mulheres. Elas têm
marido, se candidatam, mas não deixam que eles ocupem os espaços
delas”, acrescentou.
Prefeita Marly Madeirol diz que marido não interfere nas decisões que toma para a cidade do Conde
Exemplo disso, cita Quitéria, é a prefeita Marly Madeirol (PTN), do município do Conde. “Paulo [Madeirol, seu esposo e ex-prefeito] ocupa o lugar de secretário de Administração. Como todos o secretários, para qualquer atitude que eu venha a tomar, tenho que consultar os secretários. A gente faz uma ação em conjunto. Não tomo atitude sozinha. Mas a opinião final é a minha”, garantiu Marly. A gestora observa que não sofreu qualquer tipo de preconceito quando se elegeu, nem por parte do seu secretariado quase totalmente masculino - a única mulher é a secretária de Assistência Social. “Eles me tratam com muito respeito, muita ética. Acredito que a gente está em equipe, tem que estar integrado, senão não funciona. Tem um trabalho muito bom”, avalia. A prefeita de Antônio Gonçalves, Irene Costa (PR), por outro lado, afirma que houve certa resistência na população local em olhar a gestão feminina com bons olhos. “Há certa dificuldade, porque as pessoas acham que a mulher vai tratar a gestão pública como se fosse o âmbito doméstico”, explica. Para Irene, a população tem o costume de pensar que, por ser uma mulher, vai ser uma gestão “conciliadora e familiar”, mas as dificuldades são as mesmas para o homem e para a mulher. “Por isso, inicialmente, houve um choque. A população começa a perceber que a mulher não é só mãe, doméstica. A gente precisa começar a demonstrar posição mais firme, então você começa a provocar um surto entre as pessoas. Percebo isso como gestora pública e como mulher”, destaca.
Tânia Matos, prefeita de Riachão do Jacuípe, acredita que gerir uma cidade é desafiador
A prefeita de Riachão do Jacuípe, Tânia Matos (PDT), encara o cuidado da mulher com a gestão municipal como se “estivesse em casa”, mas com uma dose extra de desafios. “No mês de janeiro, o FPM do nosso município que chegou dia 10 foi zerado por causa do débito da Receita Federal. Tem que estar pronta para receber essas surpresas. Quando há queda, desestabiliza. Tudo o que você programou, não consegue pagar. O que estava programado para fazer, em benefício do município, tem que segurar, não consegue colocar em prática”, exemplifica a gestora. Vivendo o primeiro mandato feminino na história jacuipense, Tânia relata que hoje os 35 mil habitantes “aceitam bem mais” uma mulher na prefeitura, “porque estão vendo a responsabilidade, o cuidado que a gente está tendo com o município, administrando com pé no chão”. E é a competência que supera o preconceito, na opinião da prefeita do município de Floresta Azul, Sandra Cardoso (DEM). Para a gestora, na gestão pública sempre há preconceito, embora venha melhorando. “Acho que a superação maior disso é a demonstração de competência, compromisso e responsabilidade. Por isso mesmo acho que os governos femininos vêm dando resultados”, analisou, especulando que a partir de agora mais prefeitas serão eleitas no estado.
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